Amanhã é dia de Valium
Ouvindo Fairport Convention:
"Who was the one that stole my mind
Who was the one that robbed my time
Who was the one who made me feel unkind
So fare thee well, sweet love of mine"
Ouvindo Fairport Convention:
"Who was the one that stole my mind
Who was the one that robbed my time
Who was the one who made me feel unkind
So fare thee well, sweet love of mine"
O mundo é tão cruel, feio, fétido, cheio de traições, ódio, vingança, violência, sofrimento sem fim, que chega a ser louvável que animais racionais consigam viver nele. Animais irracionais não acompanham a linha dos acontecimentos, abstraem todo o processo com os únicos objetivos de comer, acasalar-se e sobreviver. Por isso estão mais adequados à vida na Terra.
Já nós, seres humanos, animais com livre arbítrio e dotados de sentimentos, somos ratos de laboratório em uma grande experiência, tentando sobreviver a cada dia, à margem da loucura. Os que passaram da margem, sabemos bem onde se encontram. Dizem por aí que existem três mecanismos para não enlouquecermos: o primeiro é a religião, que faz com que reconheçamos no desespero dos homens um compromisso, seguido de uma recompensa futura; o segundo é a ciência, que transforma o desespero em idéia e passa a estudar, categorizar e monitorar o mesmo; o terceiro são os entorpecentes, que apagam a luz e nos deixam ver apenas o mundo fluorescente da vida plástica de mentira.
Os dias passam, e nós alternamos os mecanismos de forma a sobreviver, sendo possível (perfeitamente possível) a utilização maior de um ou de outro. O problema está nas pessoas extremamente sensíveis que passaram e continuam a passar pelo mundo. O que elas sentem, não podemos dizer exatamente o que seja. Apenas conseguimos ter um esboço através de suas obras.
Por exemplo, Vinícios de Moraes era tão sensível que, se não estivesse anestesiado pelo bendito uísque, entrava num estado catatônico, borocoxô. Uma timidez infeliz, que prendia dentro do poeta uma mágoa e uma infelicidade tremenda, quando ele se dava conta de quão miserável era a vida que o cercava (e que infelizmente ainda nos cerca). Ao se embriagar na água da vida, Vinícios tornava-se parcialmente cego e podia, assim como nós, viver neste mundo.
O mesmo se aplica a Truman Capote. Uma pessoa com a sua sensibilidade jamais poderia assistir a uma execução, como ele assistiu. Capote passou a beber cada vez mais, até chegar ao ponto de precisar do álcool constantemente, sem o qual, mergulhava dentro de si. Não criava, não conversava, não saía da cama.
E assim o mesmo se aplica a diversos outros gênios, que nasceram com uma única e decisiva anomalia: uma sensibilidade extrema para sentir da vida aquilo que nós sequer fazemos idéia do que seja. Talvez seja melhor assim, para “nós” e para o legado deixado por “eles”.
Morar na Guanabara tem se mostrado um estágio não remunerado para o viver no inferno, onde os estandartes do rei avançam.
Os verões cariocas costumam ser particularmente insuportáveis. Claridade em excesso, suor em excesso, gente em excesso. Alegria forçada em excesso.
Exatamente agora, deveríamos estar no inverno. Porém, uma quantidade absurda de folhas secas cobre as calçadas, dando uma cara irresistível de outono. Mas a atmosfera seca atrapalha tudo, faz com que o ar da cidade fique estranho, doente, incomodativo.
Mas o fato é que, por pior que esteja a vida nas sesmarias do Rio de Janeiro, ainda é possível, mesmo que raramente, andar por uma rua repleta de árvores, de sombra, de umidade, de prédios art decó ou pilotis, sentindo no ar a propagação de uma melodia perene na cidade: Baby, do Caetano. A música que abre o filme “Copacabana me engana”, mas que é a trilha do que ainda resta de melhor em diversos bairros do Rio, e que espero eu, nunca deixe de existir.
"Você precisa saber da piscinaNinguém, ah ninguém
Percebeu que a batida do meu coração
Disparou quando eu vi que ela se aproximava
Revelando que o amor não havia morrido, meu senhor
Ninguém, ah ninguém
Reparou na mão dela tremer minha mão
Eu queria falar, não saía palavra
Tomado que eu fiquei de tamanha emoção
Ninguém...
Percebeu como eu estava feliz ao seu lado
Ninguém...
Entendeu que a conversa era sobre o passado
Ninguém, ah ninguém
Viu que alguém que chegava causou-me desgosto
Ninguém...
Viu a raiva e o ciúme queimando meu rosto
Ninguém, ah ninguém
Teve pena do estado do meu coração
Quando ela com seu novo amor se afastava
Porque ninguém notou como eu estava abatido, meu senhor
Ninguém, ah ninguém
Pode avaliar minha grande aflição
Ninguém viu que eu saí sem dizer uma palavra
E chorei pela rua em total solidão
E chorei pela rua em total solidão...
- Cara, eu nunca te vi namorando. Minto, já vi apenas uma vez, com... como era mesmo o nome daquela garota?
- S.
- Isso, ela mesma!
- Ei, eu já tive outras namoradas, mas você não conheceu. Putz, que porção mixuruca de bolinho de bacalhau.
- Uma miséria!
- Esse lugar não me parece grande coisa, mas como é tão perto da minha casa, eu tinha que experimentar. É um bar português, onde o dono torce pelo América. Estranho... Mas estou cansado dessa vida de solteiro.
- Mas por que?
- Ah, você sabe, cansa mesmo. Cansa viver só para si próprio.
- Isso é verdade. Olha, vou te dizer uma coisa, estou tranqüilo com a A. Ela é super gente boa, me trata super bem, não fica no meu pé, é super carinhosa... Pra você ver, hoje eu cheguei lá na casa dela, tinha comida pronta pra mim, uma delícia. Ela se importa bastante comigo, resolve coisas pra mim, me trata de forma especial.
- É... dura realidade. Se as mães durassem para sempre, os homens jamais se casariam...
-
-
"I can hardly wait to hold you, feel my arms around you
How long I have waited
Waited just to love you, now that I have found you
Don't ever go
Don't ever go."
E Deus fez o Burt Bacharach.
E o Burt Bacharach fez essa música para eternamente confortar os corações desesperados.
Don't ever go...