quarta-feira, setembro 13, 2006

Um rosto no lugar da escuridão


Adega da Praça. O melhor local para se beber na divisa das Laranjeiras com o Flamengo. E fica, obviamente, numa praça, a São Salvador. Lá tem estátua e chafariz, é uma praça de verdade.

A Adega é um boteco exageradamente pé sujo. Os garçons falam em outro idioma, o balcão é nojento e as mesas não se equilibram. Mas tem cerveja de garrafa. Boêmia, Original ou Skol, a gosto do freguês. Isso é o que de fato importa. Afinal de contas, homem mija em pé mesmo.

Outra vantagem é que posso voltar ao meu lar rastejando. É só atravessar uma rua transversal e pimba! Preciso apenas lembrar o número do meu prédio e da minha unidade.

Mas da última vez estava por lá comportado. Eu e um casal de amigos (sim, mulheres também freqüentam o local). Tomamos boa cerveja, falamos das eleições, das frustrações, do trabalho de cada um. E então meus amigos tomaram conhecimento da notícia de que estou namorando.

- Hã??? Como assim?

- Assim. Namorando. Eu e ela, ela e eu.

- Você, namorando???

- Sim. Tem mais alguém aqui?

- Não acredito! O que aconteceu? Quem é essa mulher? Por acaso é folheada a ouro? O que ela tem que te fez fazer isso?

Fazer isso! Há um bom tempo, já havia percebido que minha fama não é das melhores na cidade. A verdade é que meus amigos nunca me viram namorando. Ou melhor, um ou dois viram, mas já se esqueceram.

Isso é um perigo. Passar dos trinta anos solteiro é um perigo. Tendo fama de “all by myself” então, perigo total. Praticamente um caso perdido, desses que já se acostumaram tanto a viver bastando por si só, que não admitem que alguém tome mais do que um dia de tempo de suas vidas.

- Imagina que inferno. Você leva uma mulher pra casa, e no dia seguinte, ela continua lá!!

Sim, eu já disse isso alguma vez, talvez na própria Adega da Praça, provavelmente depois de muitas Originais. Lembro-me de uma garota que não só acordou do meu lado, como quis ficar para o almoço e para o Fantástico. Eu senti um alívio indescritível quando ela foi embora.

E sim, já fiz terapia por conta disso. O meu analista ganhou uma fortuna às minhas custas pra me dizer: ah, isso é normal, você só não encontrou a pessoa certa ainda.

Há tempos já tinha desistido de encontrar a pessoa certa. Parei até de procurar. Queria mais era curtir mesmo. 30 anos, morando sozinho, solteiro... pra que ver Fantástico acompanhado? Ou melhor, pra que ver Fantástico?

Quem lê isso deve achar que sou “O” pegador. Ledo engano. Eu sou muito devagar. Tenho aquela mania de começar a sair com uma mulher, e depois de duas semanas, já fico de saco cheio, mas levo mais um mês pra apitar o final de jogo. Aí fico arrasado, e mais um ou dois meses sem ninguém, pra me recuperar.

- Diz, o que ela fez então pra te amarrar. Precisamos conhecê-la pra ver o que é que a baiana tem!

Eu, claro, na minha timidez e discrição herdadas da minha mãe, limitei-me a dizer:

- Ah.... não é nada demais. Só acho que estou cansado dessa vida, quero sossegar agora.

- Sei...

Não costumo ser franco com um casal de amigos. Às vezes com um amigo, mas não com um casal.

E dessa forma, voltei para casa (sem precisar rastejar), guardando comigo, apenas comigo, a única justificativa. De que com os olhos abertos, vejo toda gente andando por aí, indo trabalhar, à praia, fazer compras, comendo, namorando, cantando, jogando, bebendo e rastejando. Mas quando fecho os olhos, não vejo mais escuridão. Vejo apenas um rosto, um sorriso, sempre.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

"Ta namorado!! Ta namorando!!"

11:01 PM  
Blogger Julliana said...

ai, nem me fale, tô fazendo 17 e perdendo as esperanças!!
bjos!

9:26 PM  
Blogger rêve said...

bem q os e-mails já me deixaram em depressão profunda... ah, tô adorando seu blog! bjo

4:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

bom saber-te bem e feliz ;)

11:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

ô bai mai seufeeeeee ai uana bí...
ô bai mai seeeeeufeeeeeeeeeee ai uana bíiii

1:24 PM  

Postar um comentário

<< Home